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A ARTE DE PREGAR - CHAMADOS A RECONHECER QUEM ESPERAMOS
(Is 2,1-5; Rm 13,11-14; Mt 24,37-44)
A Pequenez de um rebento |
No I Domingo do Advento, a Liturgia da Palavra colocou-nos diante da vinda do Filho do Homem, sublinhando a perspectiva do fim e o elemento da espera vigilante; o II Domingo trabalha para focar os traços d'Aquele que aguardamos e que, concretamente, já se manifestou na nossa terra em forma humana e, portanto, absolutamente pequena.
A Pequenez de um rebento
A primeira imagem que nos é oferecida, extraída do profeta Isaías (Is 11,1-10), é a de um broto, de um rebento. Certamente trata-se de uma imagem já evocativa em si mesma, mas que pode ser compreendida em toda a sua força, sobretudo, tendo presente o que acontece imediatamente antes.
Na parte conclusiva do cap. 10, de fato, figura-se uma terrível invasão: os Assírios, a máxima potência da época de Isaías, descem do Norte, atravessam a Samaria e chegam até Jerusalém, no Monte das Oliveiras. É claro que serão vitoriosos, é evidente que Jerusalém não poderá resistir ao ataque de um inimigo semelhante; é evidente que as forças estão demasiado desequilibradas...
Mas as coisas que dizem respeito ao Senhor nem sempre funcionam segundo a evidência! Aquilo que é evidente corre o risco de não ser verdadeiro e de não acontecer de todo. Pelo contrário, acontece o que não seria evidente de modo algum. O profeta imagina a Assíria como uma grande árvore dentro de uma floresta e, até mesmo, como uma selva inteira. Ali, o Senhor vem e começa a serrar ramos, a quebrar copas, a ponto de se ouvir um estrondo de árvores derrubadas. Aquilo que pareceria óbvio (a vitória assíria) não o é de todo (Senaqueribe não conseguirá tomar Jerusalém). O homem tende a confiar na potência, na força, nas dimensões imponentes. O Senhor, porém, tem um grande amor por tudo o que é pequeno e não tem problemas em reduzir a nada quem se julga tão forte. O Advento prepara-nos progressivamente para esta mudança de perspectiva, para nos conduzir a encontrar, no final do nosso percurso, um menino, um Deus pequeno.
Por um lado, portanto, a grande árvore que é cortada, a realeza que é rebaixada, e por outro algo que brota, um rebento tenro, pequeno, frágil, delicado. Uma das duas palavras utilizadas aqui é nezer que, por assonância, recorda-nos simultaneamente duas ideias: o nazireu (isto é, quem é consagrado ao Senhor; cf. Nm 6,1-21) e o nazareno (isto é, alguém que vem de Nazaré). Para nós cristãos, tal assonância é certamente significativa.
O rebento, que Isaías anuncia, brota no tronco de Jessé, exatamente como Davi, da mesma estirpe: onde tudo parecia perdido, surge, em vez disso, uma novidade, alguém que, na sua pequenez, pertence, contudo, à estirpe certa. Não só, mas este alguém é preenchido com uma série de dons que são claramente de origem divina! O versículo 2 afirma-o claramente com aquela bela expressão: "sobre ele, repousará o Espírito do Senhor". A promessa que Isaías nos oferece é a de um rei-messias cheio de todas as características necessárias para desempenhar bem a sua missão. Dado que deverá ser o guia do seu povo, ele será "equipado" com as virtudes típicas de um bom governante que seja tal segundo a perspectiva de Deus.
Primeiramente, são nomeadas a sabedoria e a inteligência, ou seja, a capacidade de decifrar a realidade e de ter um relacionamento sábio com as coisas. Em seguida, vêm o conselho e a fortaleza. Trata-se de saber discernir de maneira rigorosa nas situações complexas e de agir de modo coerente, mantendo firmes as posições assumidas após o discernimento realizado. Por fim, são necessárias a ciência (conhecimento) e o temor do Senhor. Não está claro se o conhecimento deve ser entendido aqui em sentido geral ou se se trata do conhecimento do Senhor (ambas as coisas são possíveis). Com certeza, pode-se dizer que, entre os conhecimentos deste rei-messias, o conhecimento do Senhor ocupa um lugar essencial: ele tem uma experiência íntima de Deus e O teme, no sentido bíblico, ou seja, relaciona-se de forma correta com Ele, com aquele são sentido de respeito cheio de amor.
No mundo bíblico, cabia ao rei, como atividade fundamental, também a do julgamento (pensemos no sábio julgamento de Salomão em 1Reis 3,16-28). Exatamente por estar cheio de sabedoria, este rei não julgará de forma sumária, não se contentará com as aparências, nem com boatos, mas irá pessoalmente em busca da verdade, evitando toda superficialidade. Ele não discriminará os pobres; pelo contrário, os miseráveis gozarão de um lugar especial na sua ação de governo. Da mesma forma, quem é violento e ímpio será punido com justiça, a qualquer classe social que pertença (cf. Is 1,23-24). O seu governo justo e confiável trará uma paz sem igual, representada através de uma série de animais ferozes que vivem em harmonia com os animais domésticos e "renunciam" a toda forma de violência predatória. À frente deste estranho consórcio é colocado "um menino pequeno" (v. 6) que assume o papel de guia.
A presença do rei-messias que Isaías anuncia traz consigo uma mudança radical das lógicas de poder e de opressão, razão pela qual cessa toda forma de injustiça e de acumulação. Mas tudo isto é movido, na raiz, por um novo conhecimento do Senhor, doado a todos e capaz de encher a terra inteira, como proclama também Jeremias, na sua promessa de nova aliança: "Todos me conhecerão, desde o menor até ao maior" (Jr 31,34). Quem conhece o Senhor não pode agir de forma perversa para com o irmão.
Manter viva a esperança
Ao terreno da fraternidade conduz-nos a segunda leitura (Rm 15,4-9), ajudando-nos a focar as relações entre aqueles que partilham a mesma fé em Cristo, apesar de provirem de experiências diversas. De fato, Paulo fala tanto aos que vêm do judaísmo (os circuncidados) como aos que provêm do paganismo (os gentios) e recorda que o Senhor Se fez servidor de todos. Por esta razão, agora o apóstolo pede que possam cultivar o acolhimento e a partilha de sentimentos de amor uns para com os outros. O conhecimento de Jesus leva necessariamente à comunhão entre os crentes e ao louvor para com o Pai, reconhecendo que Ele realizou as Suas promessas e deu a todos a Sua misericórdia. Por isso, a esperança não pode esmorecer.
"Com o Espírito Santo e com fogo"
Com um background semelhante é possível abordar a leitura do Evangelho (Mt 3,1-12) sem temor. Aqui, a figura dominante é o Batista, retratado na sua típica atividade de pregador. O seu papel de precursor faz com que ele peça com insistência uma só coisa: a conversão de quem o escuta (vv. 2.8.11) porque o Reino de Deus está agora próximo. João aparece como uma figura absolutamente credível, ascética, completamente dedicada à sua missão. As pessoas vão ter com ele em grande multidão para se fazerem batizar porque, evidentemente, captam a verdade da sua proposta, aceitando ouvir também palavras muito duras. É o caso dos fariseus e saduceus aos quais é pedido que não se iludam de poder estar tranquilos pelo simples fato de terem como antepassado Abraão, mas que produzam frutos reais de conversão. Parece-me que esta pode ser uma boa indicação também para nós que, talvez, nos sintamos um pouco privilegiados, pessoas que conduzem o seu caminho de fé dentro do curso traçado pela tradição da Igreja. Certamente é algo de que podemos alegrar-nos e é um dom precioso, mas devemos também estar atentos para não o transformar numa desculpa para não mudar, para nos considerarmos "chegados", pessoas que, afinal de contas, não precisam de nenhuma conversão. O Evangelho deste domingo mostra-nos que não é assim e que, muitas vezes, precisamente os mais próximos sentem muita dificuldade em empreender caminhos de novidade de vida.
O Batista declara que, a quem não produzir frutos bons, caberá exatamente a sorte – como ouvimos – reservada à Assíria, ou seja, ser como uma árvore derrubada e, aqui, também lançada no fogo.
Ao anunciar tudo isto, contudo, João proclama iminente também a vinda de Alguém que agirá de modo, por assim dizer, ainda mais radical, mais profundo. Não pedirá uma conversão puramente de carácter moral (do fazer o mal para o fazer o bem), mas agirá a um outro nível, batizando "com o Espírito Santo e com fogo" (v. 11).
O Espírito e o fogo são os elementos dominantes que fecham esta perícope evangélica, indicando uma purificação que ninguém pode produzir de maneira autônoma e uma transformação do coração que só pode alcançar-nos como dom do alto. O Espírito em que serão batizados os crentes é o mesmo que, na liturgia deste domingo, repousa sobre o rebento de que Isaías nos falou, Espírito que nos torna capazes de viver como o rei-messias, sob o signo da justiça, da fidelidade e da paz.
O fogo que Ele traz purifica e renova (cf. Ml 3,1-4), revelando o que realmente permanece e o que, pelo contrário, está destinado a perecer. Aquele que vem e que traz consigo o Reino de Deus, doará o Seu Espírito e queimará todas as coisas no fogo do Seu amor pelo mundo (cf. Lc 12,49-50). Por isso não temos medo da Sua vinda e continuamos o nosso caminho e a nossa perseverante espera."